sábado, 29 de fevereiro de 2020

Do outro lado do tempo

No último dia de fevereiro termino a leitura do livro com a personificação da humilhação feminina.
[Uma mulher profundamente ferida pela infidelidade constante do marido, grita, esperneia e desfigura-se com a sua impotência, entra-me pela casa a dentro maldizendo a leviandade da minha filha, por andar com o seu marido. E eu, sou protegida por uma legião de anjos com e sem asas. Um carro surge em sentido oposto a perguntar se está tudo bem, se precisava de ajuda. Foi um alvoroço. E eu com uma calma que a fez dizer: "A senhora não é como ela". Por fim abracámo-nos e a paz regressou ao corpo que tinha estado desalinhado!]

Um livro onde mergulhamos na dificuldade de relacionamento entre homem e mulher. As emoções de paixão e de alienação provocadas pelo álcool, como pilares de afirmação masculina. 
A pobreza de meios, por parte da mulher, que levavam ao abandono dos seus bebés na Casa da Roda dos Expostos.
A violência contra as mulheres. 
O apoio e rede social que se criava nas brincadeiras das crianças em plenas ruas, onde aprendiam o afeto, o apoio que a sobrevivência exigia.
A mulher que resistia à humilhação até que um dia "saí de si, grita como nunca pensou, enfurecesse como jamais imaginou e expulsa o causador, tanto do amor como da dor sem fim".
E é nesta transfiguração que descobre a força sobrehumana que habitava nela, sem o saber!
E sozinha afinal é forte!
De ferro!
A coragem de chegar ao (auto)enfrentamento, ao conflito, à violência, afinal tão pedagógicos e transmutadores!

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